terça-feira, 13 de dezembro de 2016

                    A PRIMEIRA APARIÇAO 
                      DO ANJO DE FATIMA 
            "O Anjo de Fátima - Pe William Wagner, Orc."

        Devido ao mau tempo, Lúcia e os seus dois companhantes, Jacinta e Francisco, haviam procurado abrigo numa pequena gruta de pedra, na encosta leste da Loca do Cabeço. Depois de terem comido a sua merenda, rezaram o terço que, por vezes, abreviavam de forma engenhosa. No lugar da oração completa, só diziam «Ave-Maria», «Santa Maria», para poderem brincar logo. De repente, avistaram uma luz vinda do leste da pequena encosta, «uma figura como se fosse uma estátua de neve... À medida que se aproximava, iamos divisando as feições: um jovem dos seus catorzes a quinze anos, mais branco do que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e de uma beleza... Ficámos muito surpresos e totalmente arrebatados.»
     Tanto a descrição que Lúcia fez do anjo, como a sua própria reação são quase bíblica. Isso lembra-nos o Anjo da Ressureição: «O anjo do Senhor, desceu do Céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela. O seu aspeto era como o de um relámpago e as suas vestes eram brancas como a neve. Os guardas tremeram de medo diante do anjo e ficaram como mortos.» (MT 28,2b-4).
    De forma  semelhante fala São João de um anjo, «cujo rosto era como o sol» (cf. AP 10,1). As mulheres, ao entrar no túmulo, »viram um jóvem, sentado do lado direito, vestido de branco. E ficaram muito assustadas. Mas o jovem disse-lhes: "Não vos assusteis."» (Mc 16,5-6) Assim como o Anjo da ressurreição procurou acalmar  as mulheres e como Sao Gabriel tentou tirar o medo do profeta Daniel (cf. DN 9,21ss.) e posteriormente de Maria na Anunciação, assim também o Anjo de Fátima encorajou as crianças com as palavras: «Não temais! Eu sou a Anjo da paz. Rezai comigo.» E possível fazer uma reflexão acerca de cada uma dessas afirmações.



                                                                   « Não temais!»

    Aqueles que temem a Deus nada têm a temer do seu anjo, por mais que a sua aparição imponha respeito, visto que o anjo está repleto da santidade de Deus que ele revelou. Foi assim que o profeta Daniel «se assustou e caiu de bruços por terra», quando o anjo Gabriel se dirigiu a ele (DN 8,17). Não apenas Daniel teve esta experiência mas também muitos outros profetas  e santos da Sagrada Escritura. Para sermos breves, referimos apenas São João, que por duas vezes caíu por terra aos pés do anjo. era tão brilhante e maravilhoso, as suas palavras tão divinas, que São João julgava encontrar-se na presença do próprio Deus (AP. 19,10 e 22,9). O "engano" de São João, entretanto é justamente prova da veracidade da sua revelação, porque somente o santo anjo tem a capacidade de estar tão unido com Nosso senhor. Aqui deparamos com a graça da presença divina e a graça da união com Deus, facto que o inimigo jamais será capaz de imitar, mesmo disfarçando de «anjo de luz» (cf. 2Cor 11,14).
   As crianças estavam tão enlevadas pela presença do anjo que Lúcia mais tarde escreve: «A atmosfera do sobrenatural que nos envolveu era tão intensa que quase não nos apercebiamos da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntimaque nem mesmo nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentiamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera que só muito lentamente foi desaparecendo.» Tal facto repetiu-se uma vez mais depois da ultima aparição do anjo, só que acompanhado de muitas mais graças e sentimentos de amor. Lúcia lembra: »A força da presença de Deus era tão intensa  que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nosn até do uso dos sentimentos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses dias, faziamos as ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impeliu. A paz e a felicidade que sentiamos eram grandes, mas só intima, completamente concentrada a alma em Deus.» Lúcia ainda comenta o seguinte depois do primeiro encontro com o anjo: «Nesta aparição, nenhum pensou em falar nem em recomendar o segredo. Ela de si o impôs. Era tão intima que não era fácil pronunciar sobre ela a menor palavra.» Tal facto explica-se porque a forma do contacto com o anjo é através da luz dos dons do espírito  Santo; a alma recebe então o conhecimento divino diretamente no seu interior, onde não existe palavras. A alma percebe coisas que não e capaz de expressar por palavras. É-lhe penoso falar sobre isso. O anjo também falou através de palavras às crianças, mas as maiores graças, as espirituais, foram depositadas no fundo da alma.


                                    « Eu sou o anjo da paz»

      O Papa  Gregório Magno ensina que o nome dos anjos não se refere à sua essência, mas muito mais à sua missão e serviço à humanidade. Assim, «Miguel» significa «Quem é como Deus?», porque a tarefa é ensinar a humildade da fé. «Rafael» significa «Medecina de Deus», pois ele foi enviado para curar Tobit da cegueira e libertar Sara do assédio do espírito maligno. Aqui temos o anjo da paz! Portanto, a sua missão é conduzir os homens á paz. Há uma santa ironia no facto de que justamente em Fátima tenha surgido o «Exercito Azul», mas lembremos que as suas armas são a oração e o sacrifício, e que as colunas combatentes estão posicionadas diretamente atrás desse santo anjo. A paz entre as nações é dádiva de Deus, a paz do coração provém da submissão amorosa a Deus, e a paz em Deus provém da união amorosa de Deus.
                                           « Rezai comigo»

      É fácil para nós compreendermos o proveiro que tras a ajuda do santo anjo na nossa oração. Rafael disse a Tobit: «Quando tu e Sara rezáveis, era eu que apresentava as vossas súplicas diante do senhor glorioso.» TB 12,12) No seu comentário acerca do sacrifício da Santa Missa, onde o sacerdote reza: «Nós Vos pedimos, Deus Todo-Poderoso, que o vosso santo anjo leve este sacrifício (do corpo e sangue de Cristo) ao vosso altar celeste...», São Tomás de Aquino confere ao anjo uma força  de intercessão única que supera a do sacerdote. Diz: «O anjo que assiste aos misterios divinos leva diante da face de Deus tanto as orações do povo como as do sacerdote», segundo AP 8,4: «Da mão do anjo subia até Deus o fumo do insenso com as orações dos santos.» No mesmo texto, escreve São Tomás: «Por este motivo a ceromónia chama-se «Missa» (Missa provém do latim mittere e significa enviar), porque o sacerdote envia orações através do anjo, tal como o povo as envia através do sacerdote.» Naturalmente, as orações dos anjos têm a força limitada de um ser criado, pois tanto a essencia da natureza dos anjos com a sua graça são limitadas, não infinitas como a natureza de deus. Os hinos de louvor dos anjos, para não mencionar os dos homens, jamais poderiam ter sido dignos de Deus. Mas então o impensável aconteceu: o próprio Deus tornou-se homem, o Filho tornou-Se Sumo Pontífice dos bens futuros . O próprio Deus colocou-Se ao lado das criaturas e interveio ao seu favor com a sua oração. Encerrou todos no seu Sacrifício de louvor infinitamente agradável, por Ele oferecido ao Pai. Assim, Deus escolheu primeiro o homem, , mas por causa dos homens também escolheu os anjos, para que Ele pudesse unir tudo em Cristo no Céu e na Terra (cf.EF 1,10).
    Por amor a Cristo e aos membros do seu Corpo Místico, os anjos anseiam unir-se a nós na oração e na adoração. Por isso, os fieis, na Missa bizantina cantam: «Mestre, Senhor nosso Deus, que instituístes a ordem celeste e dispusestes os exércitos dos anjos e arcanjos para a celebração do vosso louvor, concedei que entremos juntos com os santos anjos, que unidos a nós celebram a liturgia e camtam a megnificência da vossa bondade.» Posteriormente diz-se: «Agora as invisíveis potestades celestes unem-se a nós na adoração.» Na cerimónia do rito romano, o sacerdote reza: «A Vós, ó Deus eterno, eles glorificam sem cessar através de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deixai que unamos a nossa voz ao seu acnto de louvor e, cheios de temor, exclamemos: Santo, Santo, Santo...» A oração da Igreja só é perfeita quando anjo e homem estão unidos a Cristo no louvor da Santíssima Trindade.
                         




               « A oração e os dois mandamentos principais»

   Qual é a orção que o anjo ensinaás crianças de Fátima? É uma oração simples , de adoração (amor a Deus) e intercessão (amor ao próximo):

       Meu Deus, eu creio., adoro,
       espero e amo-Vos.
       Peço-Vos perdão para os que não creem,
       não adoram, não esperam e
      não vos amam.

     Só podemos aprender corretamente a eficácia dessa oração quando tivermos entendido que a mesma nos educa no cumprimento das duas leis maiores, o amor a Deus e ao próximo, pois «toda a Lei e os profetas dependem destes dois mandamentos» (MT 22,40). Pois toda a lei está contida numa só palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo.» (Cf. GL 5,14; Rm 13,8-10) Se refletirmos bem sobre essa verdade e sobre o facto de as crianças rezarem essa oração horas a fio, não nos deve surpreender que alcançassem processos tão rápidos na virtude e na santidade.
     Não somos nem atletas olímpicos, nem sumidades intelectuais, entretanto uma graça divina nos é oferecida: a graça do heroismo na busca da santidade. Tudo o que temos de fazer é possuir a real vontade para o amor. Uma das formas mais simples de exercitar o amor é rezar essa oração! «Este mandamento que hoje te ordeno não é muito difícil nem está fora do teu alcance.Ele não está no Céu, para que perguntes: «Quem subirá por nós até ao Céu para no-lo trazer, a fim de que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?" Também não está no além-mar, para que preguntes: «Quem atravessará por nós o mar, para nos trazer esse mandamento, a fim de que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?" Sim, essa Palavra está ao teu alcance: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática.» (DT 30,11-14)
     O anjo, entretanto, não nos dá apenas uma oração simples para o cumprimento destes dois mandamentos maiores para que sejamos capazes de os cumprir sozinhos. Não! O seu desejo mais ardente é que nós rezemos com ele. cada um dos nossos anjos da guarda deseja que nós nos ajoelhemos e rezemos com ele. Se fizermos isso, o senhor poderá cumprir uma das suas mais belas promessas: «Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.» (MT 18,20) Essa oração rezada pelo anjo é tão breve que a poderíamos usar como jaculatóriua várias vezes ao dia. Então premaneceremos unidos ao nosso anjo e caminheremos na presença de Deus.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016


O Anjo da Fátima, pintura de Roswhita Bitterlich
Mosteiro de Santa Cruz, Fátima

                                 ANJO DA PAZ

        Cem anos Já passaram desde o dia em que o Anjo de Fátima preparou os três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, para a revelação e mensagem de Nossa Senhora. Podemos dizer que o “sucesso” de Fátima se deve em boa parte aos bispos portugueses, pois intuitivamente compreenderam que a história da aparição de Fátima nos mostra as verdades evangélicas de uma forma  simples e adequada ao nosso tempo. Ambas, tanto a aparição como a mensagem de Fátima, são um credo do catecismo popular. Isso refere-se em especial à aparição do Anjo de Fátima, que podemos chamar o "primeiro mistério" de Fátima, ja que a irmã Lúcia manteve o segredo dessas revelações perto de vinte anos. Que diferença dos falsos místicos que fazem questão de espalhar a sua história com rapidez espantosa!
     Como a Mãe de Deus, também o Anjo apareceu seis vezes em Fátima. Nas três primeriras aparições, a Lúcia e as três outras meninas em 1915, ele nada disse. No decorrer do ano de 1916, deu orientações espirituais a Lúcia, a Jacinta e ao Francisco. Queremos apreciar de perto essas três últimas aparições por nos apresentarem um resume de teologia espiritual simples, mas profunda, tal como é possível ser encontrado na Sagrada Escritura e nos escritos dos santos. As últimas aparições não são só importantes  do ponto de vista meramente histórico, mas também por causa do nosso anjo da guarda, que no seu esforço de nos iluminar e conduzir à santidade, age de forma semelhante ao Anjo de Fátima.
        "Em 1972, Roswitha Bitterlich, artista estreitamente ligada ao mundo religioso, pinta um personagem angélico, em cores demonstradoras de reflexão acerca da mensagem de Fáfima relacionada com o culto dos Corações de Jesus e de maria. |...| Junto ás bem desenvolvidas asas do anjo, a pintora coloca uma folhagem de oliveira, o universal símbolo da paz, demonstrando assim, e uma vez mais, que aquele anjo é o que aparecera em Fátima no ano de 1916, chamando a atenção, entre outros aspetos, para esta cordidevoção. Com efeito, o anjo da visão dos pastorinhos intitulou-se de anjo da paz: "Não temais. Sou o anjo da paz." |...| Não obstante a exiguidade do cenário, a pintora consegue dividí-lo em duas partes, representando, no fundo do campo pictórico, um piso, composto de terra  e de água. Se, por um lado, se poderá interpretar aquela divisão como uma referência á geomorfologia da terra portuguesa, por outro prisma, ou em coincidência de prismas, a chave de leitura deste quadro pode assentar nos versículos do último livro da Bíblia: AP 10,1-2-5.8» |Duarte, M.D.(2006). Arte Sacra em Fátima. Fátima, p.68).
                    Introdução  de Pe William Wagner, ORG, O Anjo de Fátima - Paulus Editora, 2016.